ora escuta (4)

Dezembro 16, 2011 § Deixe um comentário

O post já estava alinhavado: mais uma citação de Isaías; a voz de Desmond Tutu a falar acerca do modo como as Escrituras se tornaram vivas no tempo de luta, quando se descobre um Deus que vê, escuta, sente, chora e sorri.

Mas, para quê partilhar o vídeo já conhecido? Qual o valor da repetição das palavras dos profetas, se o olhar se desviar para as nuvens, para a estratosfera das promessas, para o consolo das boas intenções?

De que adianta apontar, como dignos de exemplo, os momentos de crise de maior projecção mediática? E as lutas interiores, a guerrilha de bastidores que acontece todos os dias, sem ninguém ver?

Se pudesse transmitir a beleza, o silêncio durante as viagens de autocarro! Gosto de partilhar o espaço com pessoas que não conheço. Estamos em trânsito para destinos diferentes. Agrada-me saber que tudo aquilo que eu possa imaginar acerca das pessoas, projectando as minhas ideias, está errado.

Gostei de ver uma mulher que foi recuperando o peso e a cor do rosto, agarrando-se a livros de jogos de palavras, que preenchia e apagava, durante a viagem até ao local onde a via sair para o tratamento. Nos últimos tempos, tenho diante de mim um ícone vivo: uma rapariga sentada num dos lugares de costas para o sentido do trânsito e que tem o filho encostado ao peito, de frente para ela. É tão jovem! Às vezes, não sei se é ela que segura o filho ou se é o filho que a sustém, que a move e conduz para o que está para a frente.

É aqui que tudo acontece. Há dois mil anos, ontem, como hoje e sempre, encontramo-nos e somos encontrados na vida normal, sem espectacularidade, nem grandes ensaios.

Este vídeo foi gravado durante um concerto. A imagem não tem qualidade, o som… Quem prefere a perfeição da alta qualidade, fica sentado em casa, à espera do DVD, mas não pode cantar, com medo de desafinar e incomodar os vizinhos. Aprendi a gostar desta música!

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